quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Lobo Mau e Chapeuzinho

Me desculpem os muito bonzinhos, mas todo mundo tem um lado mau!

Não confio nas pessoas que são legais e amáveis o tempo todo. Todo mundo acorda um dia com o pé esquerdo, fica bravo com o trânsito, com a demora do elevador ou com o barulho dos vizinhos...

Não dá para acreditar que alguém passe pelas provações de cada dia, com um sorriso no rosto e uma fala mansa de contadores de histórias infantis... De vez em quando, pode até ser. Mas todos os dias!!! Difícil de aceitar.

Eu não falo por mim, por meus amigos, pelo dono da padaria... eu falo por todo mundo. Todo mundo mesmo!

Pode até ser (e isso é apenas uma suposição) que alguns seres superiores consigam aceitar a vida como ela é.
Pode até ser que alguém, como a Madre Teresa de Calcutá, por exemplo, nunca tenha sido grosso com os outros, ou descontado suas frustrações no primeiro que aparece.
Pode até ser...(e já estou forçando a barra) que exista uma alma feliz, ou alienada o suficiente, para achar que tudo é lindo e maravilhoso. Mas essas raríssimas exceções, com certeza, tiveram ao menos um único dia na vida, que estavam muito a fim de "chutar o balde"... De preferência na cabeça do imbecil que lhes tirou a paz alcançada com muito treino e abnegação.

Gente, o ser humano vive em uma montanha russa, cheia de altos e baixos, e com loopings assustadores no decorrer do percurso. Não dá para acreditar que alguém desfile pela vida sem se alterar um pouquinho de vez em quando...

Pra falar a verdade, eu confio muito mais no Lobo Mau, que finge ser bonzinho por um tempo, mas depois, vai logo declarando suas verdadeira intenções, do que na Chapeuzinho, toda meiga, saltitando pela estrada afora para levar os doces para a vovozinha.

Que criança é essa que habita os contos infantis? Quais são seus verdadeiros interesses? Será mesmo que ela foi "inocentemente" pelo caminho da floresta?

A Chapeuzinho é dissimulada. Deve estar querendo alguma coisa da avó. Talvez, esteja vislumbrando um presente especial no próximo natal... Se ela fosse uma criança normal, mesmo que obediente, iria tentar adiar a ida a casa da avó, ou querer a companhia de alguém. Afinal, o caminho era longo e a estrada deserta, a cesta estava pesada, e ainda havia a ameaça de um lobo rondando por ali.

Mas a Chapeuzinho não era obediente, como bem sabemos: Ela pegou um atalho e conversou com estranhos (o lobo). Me admira que ela não tenha comido todos os doces na metade do caminho...

Já o lobo, esse sim, muito sagaz, foi batendo um papinho, conseguindo umas informações... Foi simpático! E depois, mostrou a que veio. Simples assim.

O lobo não é um personagem fictício (a menina sim). Esse lobo, assim como os humanos, tem interesses próprios. Sabe lidar com as pessoas a maior parte do tempo, é simpático e atencioso, mas quando a fome aperta, ou alguém pisa no seu calo, abre o bocão e vai atrás de seus direitos (ou de seus interesses).

Imagino que quem se faz de bonzinho o tempo todo (agora eu peguei pesado), está varrendo muita sujeira para baixo do tapete. Está guardando, em algum lugar, todas as pequenas insatisfações ou aborrecimentos, que deveriam ser descartados ao longo da vida. Quando você age assim, o sujeira vai se acumulando, seu depósito de "caca" vai ficando repleto. E mesmo que ninguém veja esse seu lado, em algum momento a coisa vai feder!!! Vai estourar!!! E vai voar sujeira pra todo lado...

Não precisa ser tão egoísta quanto o lobo, nem tão "boazinha" como a Chapeuzinho. Seja apenas verdadeiro! Seja você!
Não precisa tentar agradar a todos durante todo o tempo... as pessoas vão entender se você algumas vezes estiver entristecido ou de mau humor. Nessas horas, são elas que vão tentar te agradar.
Essa troca é saudável e necessária para a perfeita manutenção dos relacionamentos, então, lembrem-se que contos de fadas são apenas contos "de fadas"... e que nós vivemos em um mundo real. Ainda que não sejamos perfeitos, somos capazes de amar uns aos outros, apesar de nossas qualidades, e mesmo que, repletos de defeitos.

Seja sempre você! Verdadeiramente: Você!!!!


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

E se...

E se eu tivesse um talão de multas?

Talvez eu pudesse multar os caminhões que tumultuam o trânsito da cidade, e as autoridades fingem que não veem.

Talvez eu multasse os pais que estacionam em fila dupla na porta das escola, mesmo quando a escola tem um local adequado para carga e descarga.

E multaria também os pais que acham que o local de carga e descarga foi feito para estacionar por 30 segundos (ou 25 minutos) enquanto eles entram na escola para bater um papo com a professora de seu filho.

Ah... também multaria os motoristas que estacionam em guias rebaixadas, prejudicando o acesso de moradores à suas garagens.

Se eu tivesse um talão de multas eu multaria o meu marido, cada vez que ele acelera a velocidade deixando meu corpo colado ao assento do carro. E o multaria quando ele dirige agressivamente colando na traseira do veiculo da frente, até que ele finalmente o deixe passar (nem sei que tipo de infração é essa, mas o multaria mesmo assim). Talvez eu precisasse de mais do que "um único" talão de multas para usar com meu marido...Coitado!

Mas, pensando bem, também gostaria de multar motoqueiros malucos, ciclistas que não obedecem a nenhuma lei, pedestres imprudentes... e multaria as crianças e os animais, que atravessam as ruas sem prestar atenção nos veículos que vem e vão.

E se eu tivesse um talão de multas, iria gastá-lo inteiro, tentando ensinar as pessoas que o melhor a fazer é obedecer as leis de trânsito, usar o bom senso, respeitar o próximo... Porque é isso que devemos fazer quando vivemos em uma comunidade.

Talvez, de nada adiantasse ter um talão de multas...

Na verdade, acho que ter um talão de multas serviria somente para descontar a raiva que sinto quando vejo as pessoas agindo de maneira tão egoísta. E eu me enquadro nesse rol algumas vezes... (principalmente no que se refere â porta da escola)

Um talão de multas...

Não sou agente de trânsito, nem mesmo conheço todas as leis... Ninguém me daria um talão de multas... Por isso, vou continuar me revoltando com os desrespeitos nas ruas da cidade.

E se no fim do dia, minha cabeça estiver doendo de tanta tensão, minha mãe me indicará um remédio para a cefaléia ou para o stress de mais um dia no caótico percurso entre casa-trabalho-casa-trabalho-casa...

Minha mãe não é médica, nem nada assim, mas depois de tantos anos casada com um médico, faz diagnósticos e indica remédios para todo tipo de doenças...

Minha mãe não assina receitas, nem dá atestados... Talvez, se ela pudesse, eu conseguisse um atestado para não trabalhar amanhã..

E se minha mãe tivesse um bloco de receitas e pudesse dar atestados???

E se...


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Keep calm

Não se aborreça.

Não sinta ódio desse momento ou lugar.

Perceba que esse não é o seu lugar e batalhe por um mundo melhor.

Não despeje sua frustração em ninguém.

Não desconte sua tristeza em um prato de comida.

Faça algo que te dê prazer... E que não custe nada.

Os momentos difíceis vem antes dos momentos bons. Saiba dar valor a eles também.
Tenha sempre uma mola em seus pés. Se te empurrarem para baixo, aproveite o impulso para subir mais da próxima vez.

Tome um bom banho.

Assista um lindo por-do-sol.

Sorria.

Respire fundo.

Mantenha o brilho no olhar.


A diferença entre ganhar e perder, está em sua atitude ao final de cada jogo.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Em boa companhia


Eu gosto da minha companhia.

Sempre digo que sou uma pessoa legal e por isso quase todo mundo gosta de mim... (menos aquela Vaca Colorida, como bem lembrou o meu marido). Mas a verdade, é que até ela, já afirmou um dia, que sou uma pessoa de muitos amigos.

Não vim aqui para me gabar, ou coisa parecida. E nem para mostrar que (hoje) minha autoestima está pra lá do pico do Everest. Só estou registrando, uma constatação que fiz, enquanto caminhava sozinha pela rua, em direção ao restaurante onde iria almoçar comigo mesma, pela segunda vez nessa semana.

Nós conversávamos, eu e eu mesma, sobre o dia agradável, a deliciosa aula de Pilates, e sobre a importância de comer saudavelmente em um restaurante, mesmo que o horário de almoço já estivesse estourando.

Ainda que eu estivesse indo almoçar sozinha, isso para mim, nunca foi um problema.

Não me entendam mal. Adoro a companhia de amigos e familiares em minhas refeições. Amo uma mesa repleta de gente, onde as conversas se cruzam, se embaralham, se interrompem e mesmo assim, todos conseguem falar e ouvir o que os outros tem a dizer.

De qualquer forma, isso não me impede de curtir a agradável sensação de não ter nada a dizer. De me perder em meus pensamentos, ora rindo sozinha, ora me preocupando com os problemas que nos seguem como cachorrinhos perdidos pelas ruas...

Não sei se acontece o mesmo com vocês, mas quando estou só, em silêncio, meus pensamentos falam mais alto, mais nitidamente. Nessas horas, tenho dúzias de inspirações... os gnomos que vivem em meu cérebro não são capazes de selecionar, catalogar e arquivar adequadamente cada uma delas. Muita coisa se perde. Mas isso não me preocupa!

Sou boa companhia! (Mesmo que alguns – poucos- discordem dessa afirmação)
Sou boa companhia para mim mesma e certamente, iremos sair juntas outras vezes... muitas vezes. E em nossas conversas silenciosas discutiremos muitos assuntos, ensaiaremos falas para ocasiões especificas, lembraremos de momentos engraçados e com um sorriso tolo nos lábios, perceberei que as pessoas me olham curiosas por saber o que se passa em minha mente.

Mas lá, onde só eu e eu mesma podemos entrar, estaremos sentadas em cadeiras de praia, devorando um delicioso fondue de chocolate com frutas, nos divertindo com os olhares curiosos daqueles que não foram convidados para esse almoço restrito, e que nunca poderão sentar-se ao nosso lado em  um piquenique imaginário, no canto superior de uma mente repleta de imaginação.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Conversa entre pais e filhos...

Não me trate como criança!

Já vivi muitos anos, e ainda tenho minha vida toda pela frente.

Posso não ter a mesma agilidade que um dia eu tive, mas tenho muita vontade, e muitas coisas para fazer.

Quero ter minha casa, meu canto, varrer “meu” chão e ariar “minhas” panelas.

Sim, eu sei dirigir! Ainda que não acompanhe os movimentos bruscos ou a velocidade frenética dos jovens de hoje em dia.

Eu me sinto bem em meu próprio mundo. Não tenho mais vontade ou necessidade de ler livros ou acompanhar filmes compridos. Assisto apenas alguns capítulos de uma novela, e fico pulando de canal em canal.

Quero apenas sentar em meu sofá, na minha sala cheia de antigos objetos, que me trazem boas recordações.

Não, eu não sou uma criança birrenta! Minha teimosia significa que ainda quero tomar minhas próprias decisões.

A minha vida pode durar meses, anos ou décadas... Assim como a sua!
Não pense que a juventude é sinônimo de razão. Eu também já fui jovem, já pensei ter todas as respostas e ser capaz de solucionar qualquer problema... Mas em minhas certezas de acertar, eu errei muitas vezes.

Não queira que eu mude agora. Eu não sou “Gabriela”, “não nasci assim, não cresci assim, nem sou mesmo assim”,... porque quero.
Foi o tempo que me esculpiu dessa forma, assim como a água dá forma às rochas após o impacto, ano após ano.
Cada passo, cada tropeço, a vontade de seguir sempre em frente, me fazem insistir em minhas convicções atuais.

Eu construí meu pequeno império ao longo de muitos anos e é em meu castelo que quero viver.

Sim, eu amo meus filhos e filhas. Amo meus netos e meus sobrinhos, mas não são eles que vão tomar as minhas decisões.

Quero paz, quero sossego. Não preciso que ninguém me lembre de todos os meus problemas, porque, ainda que minha memória esteja fraca, eu convivo diariamente com as minhas dificuldades.

Os jovens não são mais espertos do que eu, somente por se lembrarem dos acontecimentos da última semana... Ou do que comeram na última refeição.

Meu baú de memórias está repleto de cenas vividas, de fatos importantes. Meu baú de memórias é muito mais pesado e como vocês sabem, eu já não tenho o mesmo vigor ou a capacidade de carregar esse baú para todo lado.
Eu remexo minhas memórias, buscando aquelas das quais quase me esqueci durante os dias de minha vida. Procuro as mais antigas, as mais amareladas, as que mostram a imagem de meu primeiro cãozinho, ou das músicas que eu cantava nas noites de natal.

Sabe filho,... eu te conto velhas histórias, muitas vezes repetidamente, porque são fatos importantes para mim. E te conto novamente, insistentemente, até que minhas memórias sejam repassadas para o seu próprio baú, e assim, minha vida vai se perpetuar na sua. E minhas lembranças, talvez sejam contadas aos tataranetos que eu nem vou conhecer. Um dia, eles me conhecerão através de minhas histórias.

Hoje, meus cabelos são brancos, minha pele é marcada por manchas e rugas. Muitas partes do meu corpo doem, ou não funcionam como deveriam, mas meu coração, ainda que descompassado, carrega uma quantidade infinita de amor.

Eu tenho a certeza, de que todas as ordens que ouço de meus entes queridos, são dadas, porque eles querem o meu bem. Mas eu não quero obedecer a nenhuma ordem!

Quero apenas que vocês se sentem ao meu lado e conversem sobre algum assunto trivial. 

Quero que me mostrem como funciona esse joguinho que os mantem vidrados na tela do celular enquanto a vida passa ao redor.

Vocês, jovens, já não assistem ao pôr-do-sol, já não olham nos olhos das pessoas que amam.

Eu quero que vocês percebam que eu sou como o sol, e estou rumo ao entardecer. Nada poderá fazer que eu mude de direção.


Então, simplesmente sentem-se ao meu lado e vamos juntos aproveitar o meu calor e a minha luz. Façamos isso, antes que ela se apague.

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Maria Helena Pereira de Sá - Mãe, filha, esposa, escritora e observadora do comportamento humano. Outros textos no blog: helena73.blogspot.com.br