segunda-feira, 20 de março de 2017

A cidade passa depressa pelas janelas do ônibus. Perdida em meus pensamentos sinto uma lágrima discreta escapar pelo canto do olho e escorrer por minha face.

Houve um tempo em que eu poderia fugir de todas as dores e de todos os problemas.

Existe um espaço em minha mente para onde eu fugia quando me sentia (quase) despedaçada.

Mas esse lugar não existe mais.

Dessa vez, o estrago foi tão grande que não abalou apenas minhas estruturas externas, roubou minha alegria, sequestrou minha paz.

Dessa vez, a dor invadiu todo meu ser e derrubou as fronteiras entre meu mundo secreto e o mundo real.

Meu nome é Alice. E não por mera coincidência, criei dentro de mim um lugar chamado: País das Maravilhas.

Lá, onde não existe nenhum tipo de sofrimento, me deitava em na relva e observava o voo dos pássaros.

Nesse jardim os pássaros não cantam, pois é o silêncio que cobre, como uma manta quente, todo o lugar.

Não há pensamentos ruidosos tentando entender fatos inexplicáveis.

Um vazio supremo, repleto de imagens que vem e vão como as casas que vejo pela janela do ônibus.

Talvez esse lugar tranquilo seja a intimidade de minha alma, onde nenhuma tragédia ou felicidade podem me atingir. Ou não podiam.

Tento, desesperadamente, voltar ao meu outro país.

 Fugir da realidade só com o poder da concentração (ou da meditação,talvez), mas não consigo achar o caminho.

Sinto-me perdida dentro de meu próprio eu.

Eu fracassei.

Fracassei e quanto mais analiso esse fracasso, mas fracassos descubro em meu caminho.

Não segui os planos que tracei. Não conquistei as vitórias que desejei. Não sei qual o caminho que estou seguindo e nem se quero seguir por essa estrada.

Estou perdida, seguindo em frente, assim como o ônibus.

Seguindo uma rota, uma reta, uma curva.

O ônibus para em um cruzamento e olho ansiosa para as demais opções: uma rua arborizada, uma avenida movimentada, recheada de estabelecimentos comerciais... Mas eu e o ônibus seguimos em frente, sem mudar de direção.

Será o medo ou o comodismo que me paralisa?

Sigo, dessa vez, desviando os olhos da janela para observar aqueles que me acompanham.

Quantos estarão perdidos em seus pensamentos?