A cidade passa depressa pelas janelas do ônibus. Perdida em meus pensamentos sinto uma lágrima discreta escapar pelo canto do olho e escorrer por minha face.
Houve um tempo em que eu poderia fugir de todas as dores e de todos os problemas.
Existe um espaço em minha mente para onde eu fugia quando me sentia (quase) despedaçada.
Mas esse lugar não existe mais.
Dessa vez, o estrago foi tão grande que não abalou apenas minhas estruturas externas, roubou minha alegria, sequestrou minha paz.
Dessa vez, a dor invadiu todo meu ser e derrubou as fronteiras entre meu mundo secreto e o mundo real.
Meu nome é Alice. E não por mera coincidência, criei dentro de mim um lugar chamado: País das Maravilhas.
Lá, onde não existe nenhum tipo de sofrimento, me deitava em na relva e observava o voo dos pássaros.
Nesse jardim os pássaros não cantam, pois é o silêncio que cobre, como uma manta quente, todo o lugar.
Não há pensamentos ruidosos tentando entender fatos inexplicáveis.
Um vazio supremo, repleto de imagens que vem e vão como as casas que vejo pela janela do ônibus.
Talvez esse lugar tranquilo seja a intimidade de minha alma, onde nenhuma tragédia ou felicidade podem me atingir. Ou não podiam.
Tento, desesperadamente, voltar ao meu outro país.
Fugir da realidade só com o poder da concentração (ou da meditação,talvez), mas não consigo achar o caminho.
Sinto-me perdida dentro de meu próprio eu.
Eu fracassei.
Fracassei e quanto mais analiso esse fracasso, mas fracassos descubro em meu caminho.
Não segui os planos que tracei. Não conquistei as vitórias que desejei. Não sei qual o caminho que estou seguindo e nem se quero seguir por essa estrada.
Estou perdida, seguindo em frente, assim como o ônibus.
Seguindo uma rota, uma reta, uma curva.
O ônibus para em um cruzamento e olho ansiosa para as demais opções: uma rua arborizada, uma avenida movimentada, recheada de estabelecimentos comerciais... Mas eu e o ônibus seguimos em frente, sem mudar de direção.
Será o medo ou o comodismo que me paralisa?
Sigo, dessa vez, desviando os olhos da janela para observar aqueles que me acompanham.
Quantos estarão perdidos em seus pensamentos?