terça-feira, 19 de agosto de 2014

Quem de nós é especial?

Hoje eu acordei especial. Tão especial quanto nos outros dias da semana ou do mês.

Especial como eu era ano passado ou no ano anterior.

Mas o dia mal começou e eu logo percebi que estava muito enganada. Redondamente enganada, como dizem.

Em uma breve visita a um centro de apoio à pessoas com algum tipo de deficiências, notei que minha percepção sobre as pessoas era falha. Injusta.

Ali, percebi que estava rodeada de pessoas especiais. Preste bem atenção, eu não disse, em nenhum momento, "portadores de necessidades especiais".

Aquelas pessoas são ESPECIAIS! E nós, somos "portadores de necessidades fúteis"!

Uma característica que eles tem em comum, é o sorriso. Todos sorriem, mesmo os que precisam de equipamentos para se locomover, ou os que tem dificuldades em ouvir, enxergar, falar...

Enquanto caminhamos carrancudos pelas ruas, sem observar as belezas do mundo ao redor, algumas pessoas lutam para levar uma vida "normal"... E sorriem.

Mas o que é uma vida normal? Normal aos padrões de quem?

Eu, acordei pensando que era especial... Mas por que eu deveria me sentir assim?

Meu dia-a-dia é muito fácil, se comparado a cada dia de luta daquelas pessoas.

Quais são as dificuldades que eles enfrentam? Quais as barreiras que tiveram que ultrapassar para chegar até aquele centro de tratamento e apoio?

Sim, eles são especiais!

Eu sou apenas uma pessoa comum. Como tantas outras...

Porém, algumas dessas pessoas comuns são mais espertas que as outras. Elas escolheram trabalhar com as pessoas especiais. Escolheram aprender com elas, aprender como sorrir todos os dias.

Elas escolheram assistir de perto as batalhas da superação.

Essa união dos especiais, com "os comuns", os comuns um pouco mais espertos que os demais, cria uma atmosfera de amor incondicional. O amor sem cobrança, como todo amor deveria ser.

E o brilho dos sorrisos ilumina a casa.
Uma casa onde ninguém "espera" ou cobra do outro, mais do que ele é capaz de dar de si mesmo.

Ainda assim, essa casa é chamada "Casa da Esperança"

Talvez porque resta a esperança de que todos nós, um dia possamos perceber que não somos assim, tão especiais quanto pensamos, e que não basta ser apenas normal.

Temos muito o que aprender!!!

É preciso olhar ao redor e entender que o mundo é muito maior do que esse micro universo que nos cerca.

Hoje eu acordei me sentindo uma "pessoa especial", e felizmente vou dormir com a certeza de que não sou. Sou apenas uma "pessoa".

E quem sabe, com muita sorte, a humanidade inteira aprenda a enxergar o mundo como ele realmente é, percebendo que nossas características físicas ou intelectuais, não nos tornam melhores que ninguém; que nossos problemas são ínfimos e nossas batalhas são tolas. Que temos um milhão de motivos para sorrir.

Quem sabe a gente aprenda a sorrir com a mesma leveza e o mesmo brilho dos sorrisos que eu vi hoje.

*Maria Helena Pereira de Sá
(Após alguns poucos minutos na recepção da Casa da Esperança)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A preciosidade e fragilidade da vida

E quando a morte estampa as páginas dos jornais, pensamos na fragilidade da vida.

A morte é uma sentença certa, sem apelação.

Nunca a consideramos justa, seja por fatalidade, tragédia, doença... seja após longos e longos anos vividos.

Mas não estamos livres dela.

Então, nesses momentos, vivemos um sentimento de perda, uma dor por aquilo que poderia ter acontecido com os nossos entes queridos, familiares ou amigos.

Temos a certeza de que somos suscetíveis aos desígnios do destino.

Pensamos nos que partiram, na dor de suas famílias e sentimos o gosto amargo desse sofrimento.

Piedade e medo se unem e nos transformam.

Nessas horas, estamos realmente ligados à vida. Sabemos que ela é finita. Sabemos que devemos aproveitar cada minuto. Amar. Viver.

Depois de um tempo, o tempo passa, a poeira baixa, o sentimento se dilui em meio a tantas outras preocupações...

E seguimos anestesiados, vivendo como se tivéssemos toda a vida pela frente, e como se esse tempo fosse eterno.

E a vida parece novamente soberana.

Tão nossa, que somos capazes de acreditar que ninguém será capaz de subtraí-la de nós.

Esquecemos de sua preciosidade.

Viva com intensidade, valorize o que realmente tem valor, sorria a cada despertar. 
Você possui algo de valor inestimável. Aproveite a vida!!!

*Maria Helena Pereira de Sá

Nota: No dia de hoje um avião bimotor caiu no meio de um bairro residencial de minha cidade. Sete famílias perderam seus entes queridos*, algumas pessoas ficaram feridas, outras desabrigadas. A tragédia que estampará as capas dos jornais amanhã, foi enorme e ao mesmo tempo mínima. Poderia não ter acontecido ou poderia ter sido muito pior. Não existem ainda, explicações. O que existe, é a certeza de que a vida é valiosa e frágil.
*Entre as vítimas estava um político de visibilidade nacional - candidato à presidência - por essa razão, a tragédia virou destaque em todas as mídias jornalísticas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Sonhos e realidades

Enquanto nós trabalhamos em busca da realização de nossos sonhos, a grande maioria da população mundial ainda sonha em poder realizar "nossas" realidades.

A frase parece estranha, mas a estranheza não está na frase, está no fato de milhares e milhares de pessoas viverem em condições tão carentes, que talvez, o fato de ter um pão para comer ao longo do dia, seja como um sonho realizado.

Nós, desejamos possuir algo mais, viajar para lugares paradisíacos, um novo penteado ou um jantar especial, uma roupa nova. Sonhamos com aquilo que não possuímos, sem dar valor a tudo aquilo que já conquistamos. E mesmo que tenhamos que batalhar duro para pagar cada uma de nossas contas, mesmo que nossa conta bancária esteja no vermelho metade do mês e que cortemos parte dos gastos cada vez que a situação fica um pouco pior, ainda assim, nos damos ao luxo de planejar as próximas férias, pois sabemos que apertando o cinto um pouco mais, vale muito a pena abandonar alguns "luxos" para desfrutar de outros.

Mas... tem pessoas que tem muito pouco ou quase nada. E eu nem estou me referindo aos milhares que vivem em condições sub humanas, sem o atendimento às necessidades mais básicas como teto, água, comida, medicação. Não estou me referindo aos que "sobrevivem" apesar da total falta de condições salutares. Sobre esses, nem posso falar, pois nem com toda a minha imaginação, seria capaz de descrever as situações as quais são submetidos.

Falo de gente que se aperta para botar a comida na mesa, para pagar as despesas da casa, que pode ser a mais humilde das casas, mas que dá a dignidade por representar o seu espaço no mundo, seu ninho. Falo daqueles que caminham trechos enormes pela manhã, não para fazer exercício físico, mas para economizarem o valor da passagem.

Muitas vezes, em nossa inocente compaixão, gostaríamos que eles pudessem realizar os "nossos" sonhos, sem percebermos que seus sonhos são muito mais valiosos.

Eles sonham em realizar as "nossas" realidades, em ter comida na mesa para seus filhos, em poder pagar as contas antes do vencimento, em dormir uma noite tranquila, mesmo que o colchão e o travesseiro sejam duros e velhos, mesmo que os lençóis estejam rasgados. Uma noite que não seja atormentada pelas incertezas do amanhã, assombradas pelos fantasmas do desemprego ou dos "cortes" de pessoal.

Enquanto tomamos nossos banhos quentes pela manhã, muitas pessoas já levantaram muito antes do amanhecer para "tentar" preparar um banho decente: alguns ainda não tem água encanada em suas casas, ou eletricidade.

As nossas lutas nem se comparam às batalhas diárias de tantos outros.

Mesmo assim, temos sonhos.

Não vou dizer que não devemos tê-los. Sonhar faz parte de nossas vidas. Mas devemos perceber que os sonhos de uns não são iguais aos sonhos de outros.

Devemos ter consciência das realidades.

Ter consciência das realidades, ser gratos pelo que possuímos e buscar formas de ajudar àqueles que anseiam pelo dia em que realmente poderão sonhar seus próprios sonhos.