sábado, 30 de outubro de 2021

Divagações de um sábado a noite

 

Por onde andas? 

Eu, ando pelo mundo.

Observo quem passa, quem passou.

Pra onde olhas?

Eu,  que olhava lábios e sorrisos hoje cobertos, passei a olhar nos olhos, janelas da alma.

O que procuras?

Eu, procuro o impossível, o impensável.

Tenho a cabeça nas nuvens e os pés fincados no chão.

O que desejas?

Eu, desejo tudo, desejo mais, desejo o mundo inteiro ou apenas um abraço.

O que temes?

Eu? Melhor nem listar.

E teus sonhos, quais são?

Eu sonho muito. Sonho sempre. Sonho dormindo, mas principalmente acordada. Tenho sonhos para realizar, sonhos só pra sonhar, sonhos pra lembrar, sonhos pra deixar os dias mais azuis, como o céu e o mar. 

E o que te faz suspirar?

...

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Sobre esquecimento. (Já falei sobre isso? - se falei, esqueci)

 Esquecer pode ser um fardo ou um dom.

Quando se esquece compromissos geralmente é um problema.
Esquecer as contas é uma dor de cabeça.
Esquecer a toalha quando vai tomar banho então, nem se fala.
Esquecer os remédios diários é perigoso e insalubre.
Esquecer de beber água é um risco, de desidratação, de infecções, de cálculos renais, e isso dói.
Esquecer de eventos importantes é complicado.
E esquecer pessoas conhecidas pode ser muito constrangedor.
Mas esquecer também pode ser bom.
Esquecer a raiva de minutos atrás.
Esquecer as expectativas e aceitar a realidade como ela é.
Esquecer as mágoas.
Esquecer as tristezas.
Esquecer as pessoas que você não quer mais na sua vida
Esquecer os sentimentos ruins.
Esquecer as dores do passado e as do presente.
Esquecer seus próprios erros. (As vezes é bom também)
Esquecer de se cobrar por coisas que não cabem a você.
Esquecer que é segunda-feira e sair da cama com o bom humor de um sábado de manhã.
Esquecer os problemas do mundo real e criar seu próprio mundo, de realidades suaves e fantasias verossímeis.
Esquecer pode ser um dom.

O problema é que quando se tem o dom de esquecer o seu cérebro aprende que pode apagar memórias quando convém. Ele só não aprende a sua lógica de conveniência.
Então, ele começa apagar memórias, lugares, pessoas que não deveria ter apagado. E você tem uma séria conversa com ele e diz: Ei, não é pra apagar isso ou aquilo. Mantenha intacta minhas memórias.
E o cérebro, só de birra, traz de volta memórias que você já tinha descartado.
Da próxima vez que você diz: Ei, quero esquecer isso aqui. Seu cérebro responde: Acho que não, essa memória ruim pode ser importante. Que tal desconstruir seu castelinho de areia? Que tal fazer uma planilha dos maus momentos descartados? Que tal lembrar das coisas que não te fazem bem e que você insistiu em esquecer?
Que tal um pouco de realidade? Não a realidade real, mas essa aqui, distorcida, focada em toda podridão guardada nos arquivos ocultos.

É... Esquecer pode ser um um dom.
Vou esquecer essa conversa com o cérebro e deixar o assunto suspenso até a poeira baixar.
Depois é só varrer tudo pra debaixo do tapete.

Gestos

 Pouco notam a importância de simples gestos.

Na correria da vida a gente perde na memória os detalhes de grandes eventos, não lembra direito a roupa que usou ou se estava com a maquiagem caprichada.

A gente não lembra o sabor da refeição cara que pesou na fatura do cartão de crédito, nem é capaz de relacionar todos os amigos que curtiram suas fotos nas redes sociais, principalmente porque a maioria de nós tem tantos "amigos" na rede social que nem sabe se um dia teve alguma conversa verdadeira com eles.

Tem coisas que a gente esquece, não importa quão grandioso tenha sido o momento, e tem coisas que a gente lembra por toda nossa finita eternidade.

Uma simples troca de olhares.

Uma mão ofertada quando o caminho era escuro.

Um suspiro durante a conversa. (Dizem que os suspiros trazem os anjos pra mais perto de nós. Talvez seja verdade)

A própria conversa pode ser esquecida com o passar dos anos, mas a sensação de estar frente a frente, olho no olho, pensamento no pensamento, essa sensação nunca é esquecida.

A gente perde o contato e o número do telefone, mas não tira do âmago aquele desejo de um telefonema.

E o toque?

O toque suave que acaricia a alma fica gravado pra sempre.

Um abraço em um momento feliz ou nos piores momentos de tristeza. Abraços sinceros são marcantes. Quem abraça pode esquecer, mas quem foi abraçado sempre se lembrará.

Pequenos gestos, sem custos e sem esforço são valiosos no decorrer de nossa história.

Algumas vezes a gente lembra sem querer, de repente, e sorri de novo, arrepia, se aquece. Outras vezes o destino faz uma curva acentuada e a gente fica cara-a-cara com a lembrança. Um instante...e passa. Mas a memória se ilumina como um show de fogos de artifício, e vai brilhando aqui e ali, acendendo essa ou aquela recordação, até todos esses sentimentos e imagens ficarem espalhados no chão da sala, e a gente olhando, observando, desfrutando.

Impossível saber quando um gesto será eternizado, mas por experiência eu digo: são as pequenas ações que ficam guardadas, os sentimentos que transbordaram, o que tocou a alma. Tudo aquilo que fez parecer que o encontro veio de outras vidas e que permanecerá pelas próximas