sexta-feira, 4 de julho de 2014

O ultimo beijo

Foi em março de 2014...

Dizem que os gatos se apegam às casas, e não aos donos.

Dizem que não são carinhosos: são independentes.

Pra falar a verdade, eu nunca fui fã de gato. Sempre acreditei nesse monte de baboseiras, e me rendi inocente, aos apelos dos cães.

Quando nosso gato chegou a essa casa, em 2005, eu não imaginava o que estava por vir.

Eu não escolhi ter um gato, fui convencida a ter um.

E com o tempo, descobri que não são os donos que escolhem o gato. É o gato que escolhe o dono.

Assim como eu, o gato é um ser reservado. Ele não faz festa para todas as pessoas, não fica mendigando atenção, não se faz de simpático só para agradar e satisfazer as vontades dos outros.

O gato não deita, não rola, nem busca a bolinha ou o jornal.

Gatos não são só independentes, eles são geniosos. São autênticos.

O gato de nossa casa, recebeu o nome de Fred. Dominou todos os espaços e escolheu seu próprio dono. Para minha surpresa, ele me escolheu.

Eu, que ainda não tinha me rendido a seus encantos. AINDA...

Ignorando os chamados de meu marido e minha filha, era no meu colo que ele ia deitar enquanto assistíamos TV.

O Fred me pedia carinho, me cutucando com a pata na hora do jantar. E se eu me acomodasse um pouco para a frente, ele se deitava em minha cadeira, me fazendo companhia enquanto eu comia.

Pela manhã, o Fred me chamava miando, pedindo água ou comida, ou querendo que eu limpasse a caixa de areia.

Meu gato, meu dono.

Eu obedecia seus chamados, oferecia meu carinho e aos poucos fui me apaixonando por ele.

O gato me conquistou.

Quantas vezes ele não subiu na rede, quando eu estava deitada, lendo ou descansando.

À noite, se deitava ao meu lado, e nos aconchegávamos até o primeiro de nós dormir (geralmente eu). Depois ele pulava da cama e ficava pelo quarto, velando meus sonhos.

Nosso amor era real. Olhos nos olhos. Um carinho infinito...

No final de março, algumas semanas antes dele morrer (quando eu ainda nem sabia que ele estava doente), o Fred lambeu minha mão.

Não sabia se era comum o gato lamber seu dono, então, decidi pesquisar.

Me lembro de ter lido que gatos lambem para se lavar...mas eu não estava suja.

Mas os gatos também lambem para demonstrar confiança, carinho, proteção. Assim como lambem seus filhotes. Naquele momento entendi que estava sendo beijada.

Foi o ultimo beijo que ele me deu.

Não sei se, em seu sexto sentido, o Fred percebeu que suas sete vidas estavam chegando ao fim. Não sei se ele estava se despedindo ou demonstrando seu amor.

Seu amor era tão grande quanto o meu. Eu podia ver isso em seu olhar.

Eu posso sentir.

Fred foi o meu dono. E eu, fui sua humana de estimação.

*Maria Helena Pereira de Sá

"Esse texto foi escrito em 11 de abril de 2014, alguns dias depois da morte do Fred. Mas decidi programar para que seja publicado daqui a um tempo...seis meses, um ano... ainda não sei.
Quero que as emoções que me inspiram nesse momento, não se percam. 
Porém, não pretendo que essas páginas fiquem repletas de lamentações. Quero que a lembrança permaneça, mas só como saudade... sem lágrimas, sem dor."

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