quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Entre tempos

Com sua licença, vou fechar as cortinas.

Vou me perder em meus pensamentos e mergulhar em palavras sem sentido algum.

Não tente espiar. Não tente entender.

Vou me deitar na areia da praia e torcer para que o barulho das ondas possa encobrir todos os sons ao redor. E os ruídos da minha mente.

Vou fechar os olhos para enxergar o mundo de uma outra dimensão.

O mundo que deveria existir.

Vou sonhar acordada novamente, enquanto caminho, sonâmbula, por entre os corredores desse enorme mercado.

Mercado de pulgas.

Sinto coceiras na alma. Em lugares que não sou capaz de alcançar.

Sinto frio, apesar do sol que brilha através das cortinas.

Talvez me faltem braços. Cheiros com certeza me faltam.

Viajo à velocidade da luz. Não. Viajo mais rápido. São pensamentos.

Estou lá e aqui. E não estou em lugar nenhum.

Sempre evitei pimenta, sapato apertado, leite quente, cadeiras com tachinhas.

Mas evitar tudo não me liberta das experiências que preciso sentir.

Fugir não é a melhor opção. Eu sei. Nunca foi.

É preciso enfrentar também essa fase. Ela passa. Tudo passa.

Sentiremos saudades também da escuridão. Então, que seja. Vamos aproveitar o breu.

No próximo alvorecer tudo será diferente. E novamente, devemos aproveitar.

O som das ondas não encobre o barulho ao redor.

Concentre-se!

O amargo da fruta também é um sabor.

Mas é doce o teu olhar.

Adoce-se.

Posso fechar as janelas e as cortinas, mas isso não impedirá o vento de seguir seu rumo.

Com sua licença vou reabrir as cortinas.

Vou vestir meu sorriso e esperar os olhos secarem ao sol.

Logo esse ciclone se desfaz. Logo poderei usar meu novo guarda-chuva para nos proteger das gotas de outras tempestades.

Aguardo ansiosa.

Até já!

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