quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Sobre esquecimento. (Já falei sobre isso? - se falei, esqueci)

 Esquecer pode ser um fardo ou um dom.

Quando se esquece compromissos geralmente é um problema.
Esquecer as contas é uma dor de cabeça.
Esquecer a toalha quando vai tomar banho então, nem se fala.
Esquecer os remédios diários é perigoso e insalubre.
Esquecer de beber água é um risco, de desidratação, de infecções, de cálculos renais, e isso dói.
Esquecer de eventos importantes é complicado.
E esquecer pessoas conhecidas pode ser muito constrangedor.
Mas esquecer também pode ser bom.
Esquecer a raiva de minutos atrás.
Esquecer as expectativas e aceitar a realidade como ela é.
Esquecer as mágoas.
Esquecer as tristezas.
Esquecer as pessoas que você não quer mais na sua vida
Esquecer os sentimentos ruins.
Esquecer as dores do passado e as do presente.
Esquecer seus próprios erros. (As vezes é bom também)
Esquecer de se cobrar por coisas que não cabem a você.
Esquecer que é segunda-feira e sair da cama com o bom humor de um sábado de manhã.
Esquecer os problemas do mundo real e criar seu próprio mundo, de realidades suaves e fantasias verossímeis.
Esquecer pode ser um dom.

O problema é que quando se tem o dom de esquecer o seu cérebro aprende que pode apagar memórias quando convém. Ele só não aprende a sua lógica de conveniência.
Então, ele começa apagar memórias, lugares, pessoas que não deveria ter apagado. E você tem uma séria conversa com ele e diz: Ei, não é pra apagar isso ou aquilo. Mantenha intacta minhas memórias.
E o cérebro, só de birra, traz de volta memórias que você já tinha descartado.
Da próxima vez que você diz: Ei, quero esquecer isso aqui. Seu cérebro responde: Acho que não, essa memória ruim pode ser importante. Que tal desconstruir seu castelinho de areia? Que tal fazer uma planilha dos maus momentos descartados? Que tal lembrar das coisas que não te fazem bem e que você insistiu em esquecer?
Que tal um pouco de realidade? Não a realidade real, mas essa aqui, distorcida, focada em toda podridão guardada nos arquivos ocultos.

É... Esquecer pode ser um um dom.
Vou esquecer essa conversa com o cérebro e deixar o assunto suspenso até a poeira baixar.
Depois é só varrer tudo pra debaixo do tapete.

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