quinta-feira, 29 de maio de 2014

A barata e eu

Encontrei uma barata morta. Deitada de barriga pra cima ao lado de minha cadeira no novo local de trabalho.

Será que tem muitas baratas por aqui?

E essa? Faço o que com ela?

Ainda estou com meu pãozinho do café da manhã nas mãos...

Deixo ela ali mais um pouquinho e termino meu café, ainda concentrada na barata.

De que será que ela morreu? Velhice? Cansaço? Um ataque cardíaco fulminante?

- Ei, Barata! Você está morta mesmo?

Faço um movimento perto de suas antenas e ela fica estática.

Fico estática também, só observando...

-Ops! Acho que a antena se mexeu...

Mais alguns segundos...

As patas se mexeram também!

Ela está viva!!!! Barata bandida... Tentando me enganar.

Imagine se eu resolvo pegar a defunta com um pedaço de papel higiênico...Argh... Era capaz de ela sair correndo, subindo pelo meu braço.

Já me vejo gritando feito uma louca, arrancando o casaco, a blusa... e logo, meus colegas chegam e veem essa cena bizarra, sem saber da existência da barata aspirante à atriz.

Não mexo nela, ela não mexe comigo.

Acho que ela resolveu dormir de barriga pra cima durante a noite, e agora não consegue desvirar.

Meu sanduba acabou... continuo concentrada na barata.

Ela ainda se mexe de vez em quando, tentando mudar de posição.

E eu, enquanto escrevo, fico pensando se devo esperar um homem forte e corajoso chegar para matar a barata, ou se vou ter que fazer esse serviço sujo com minhas próprias mãos, digo, com meu próprio pé.

Ai... isso é tão nojento!

Eu devia acabar logo com esse sofrimento, o meu e o da barata, e assassiná-la de uma vez por todas. Já procurei veneno e não encontrei. Vou ter que pisar.

Não quero nem ver! Mas se eu jogar um papel em cima dela, certamente ela conseguirá fugir.

Eu escrevo esse texto, olho a barata, escrevo de novo, olho mais uma vez.

Por que será que eu não tenho coragem de dar um fim à essa angustia e ansiedade?

Eu sei porque.

Se eu matar a barata logo, será o fim dessa história. A barata, apesar de nojenta, é minha musa inspiradora.

Acho que ela está fazendo uma pose... Sim!!!! Grande idéia, a da barata, vou tirar uma foto.

Depois eu finalizo a história.

Pronto, a foto ficou ótima. Estou pensando até em dar um nome pra barata. Acho que vou chamá-la de Judith.

Judith, a barata atriz!

E agora? Bem que dizem que não devemos dar nomes... Me apeguei à Judith. Tão nova para morrer... Tantos caminhos pela frente.

E se eu segurasse ela pela antena, caminhasse uns cinco quilômetros e a soltasse em uma rua qualquer?

Será que isso também seria considerado abandono de animais?

Judith agora tem seu destino incerto: Morte ou abandono?

Ah, Judith.... O que vou fazer com você?

Ninguém chega para me ajudar...

Maria Helena Pereira de Sá - Escritora
Autora do blog: Páginas em Branco





Um comentário:

Envie seu comentário para helena73sa@gmail.com ou use esse espaço