Encontrei uma barata morta. Deitada de barriga pra cima ao lado de minha cadeira no novo local de trabalho.
Será que tem muitas baratas por aqui?
E essa? Faço o que com ela?
Ainda estou com meu pãozinho do café da manhã nas mãos...
Deixo ela ali mais um pouquinho e termino meu café, ainda concentrada na barata.
De que será que ela morreu? Velhice? Cansaço? Um ataque cardíaco fulminante?
- Ei, Barata! Você está morta mesmo?
Faço um movimento perto de suas antenas e ela fica estática.
Fico estática também, só observando...
-Ops! Acho que a antena se mexeu...
Mais alguns segundos...
As patas se mexeram também!
Ela está viva!!!! Barata bandida... Tentando me enganar.
Imagine se eu resolvo pegar a defunta com um pedaço de papel higiênico...Argh... Era capaz de ela sair correndo, subindo pelo meu braço.
Já me vejo gritando feito uma louca, arrancando o casaco, a blusa... e logo, meus colegas chegam e veem essa cena bizarra, sem saber da existência da barata aspirante à atriz.
Não mexo nela, ela não mexe comigo.
Acho que ela resolveu dormir de barriga pra cima durante a noite, e agora não consegue desvirar.
Meu sanduba acabou... continuo concentrada na barata.
Ela ainda se mexe de vez em quando, tentando mudar de posição.
E eu, enquanto escrevo, fico pensando se devo esperar um homem forte e corajoso chegar para matar a barata, ou se vou ter que fazer esse serviço sujo com minhas próprias mãos, digo, com meu próprio pé.
Ai... isso é tão nojento!
Eu devia acabar logo com esse sofrimento, o meu e o da barata, e assassiná-la de uma vez por todas. Já procurei veneno e não encontrei. Vou ter que pisar.
Não quero nem ver! Mas se eu jogar um papel em cima dela, certamente ela conseguirá fugir.
Eu escrevo esse texto, olho a barata, escrevo de novo, olho mais uma vez.
Por que será que eu não tenho coragem de dar um fim à essa angustia e ansiedade?
Eu sei porque.
Se eu matar a barata logo, será o fim dessa história. A barata, apesar de nojenta, é minha musa inspiradora.
Acho que ela está fazendo uma pose... Sim!!!! Grande idéia, a da barata, vou tirar uma foto.
Depois eu finalizo a história.
Pronto, a foto ficou ótima. Estou pensando até em dar um nome pra barata. Acho que vou chamá-la de Judith.
Judith, a barata atriz!
E agora? Bem que dizem que não devemos dar nomes... Me apeguei à Judith. Tão nova para morrer... Tantos caminhos pela frente.
E se eu segurasse ela pela antena, caminhasse uns cinco quilômetros e a soltasse em uma rua qualquer?
Será que isso também seria considerado abandono de animais?
Judith agora tem seu destino incerto: Morte ou abandono?
Ah, Judith.... O que vou fazer com você?
Ninguém chega para me ajudar...
Maria Helena Pereira de Sá - Escritora
Autora do blog: Páginas em Branco
Kafkaniano!
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