segunda-feira, 6 de abril de 2015

Os verdadeiros heróis

Hoje é meu aniversário. E é o quinto dia em que uma centena de bombeiros trabalha ininterruptamente pra apagar um incêndio em uma empresa que armazena combustíveis em Santos/SP.

"É como tentar apagar um vulcão" - descreveu um desses homens.

Essa também é a impressão de quem vê a imagem de longe.

A nuvem de fumaça preta se espalha pelos municípios da região. O vento, parece medir forças com a água. Soprando mais forte a cada momento, mudando de direção e tornando ainda mais extenuante, o trabalho daqueles que tentam extinguir a chama dessa pira.
São atletas olímpicos! Incansáveis, quebrando recordes a todo instante.

Todos sofrem os efeitos de um incidente que ninguém sabe ao certo como começou, e não tem data certa para terminar.

No ar a fumaça, na água peixes mortos, a ameaça de chuva ácida, e ainda, os boatos, que causam tantos danos à saúde quanto os impactos causados ao ambiente.

A cidade que um dia foi considerada a mais poluída do mundo retorna a década de oitenta, e convive novamente com a fumaça, a névoa de poluentes no ar. Quando o vento sopra para aquelas bandas, não há como escapar. Ela está encurralada pelas montanhas.

De todos os cantos, da estrada, da praia, das janelas dos edifícios de Santos e região, a paisagem se transformou. Todos acompanham de perto ou de longe a altura das chamas, a cor da fumaça, a direção da nuvem negra ou cinza.

Nos noticiários ou durante a programação da TV, poucos minutos são dedicados ao assunto. 
Já não causa mais espanto ou não se tem nada a dizer?

Enquanto isso, os bombeiros continuam trabalhando. Passou o feriado, a sexta-feira santa, a páscoa... Seus familiares os aguardam em casa preocupados enquanto nós seguimos com nossas ocupações diárias.

A tragédia vem sendo anunciada à anos. "Vivemos sob um barril de pólvora " - Quantas vezes já ouvi isso?

Por sorte, não temos vítimas dessa vez. Mas estávamos preparados?

Todo o sistema de proteção da empresa se mostrou ineficiente. Pode ser que sem ele a situação tivesse ficado ainda pior, mas a sensação é de que ainda existem muitas falhas, que colocam a vida de milhares em risco.

O fogo se espalhou de um reservatório ao outro. Será que a distância entre eles era suficientemente segura? Parece que não.

O porto, a cidade, os moradores, todos foram afetados.

Se houvesse mesmo a necessidade de evacuar a área, para onde fugir?

Como tirar os moradores da ilha?

Como informar a tantas pessoas?

Incrível que na era da comunicação as notícias ainda sejam desencontradas. Por dois dias, um canal de TV anunciou que o incêndio era em Cubatão. Mais fácil se lembrar de um nome já tão castigado ou falta de comprometimento com os verdadeiros dados da notícia?

Na ânsia de noticiar o "evento", muita besteira foi dita.

E hoje, no quinto dia de combate às chamas, no dia do meu aniversário, vou apagar as chamas das velas, desejando que os bombeiros também consigam extinguir as chamas do incêndio, e que possam voltar para suas casas, suas familias, e desfrutar do merecido descanso.

Até porque, essa semana tem a final de um reality show na TV, os vencedores serão chamados de heróis por seu grande feito...

O que? - Pergunto indignada.

Meus heróis são outros. Meus valores são outros.

Faço aqui, uma homenagem aos heróis do Corpo de Bombeiros, e à todos os homens e mulheres que trabalharam e ainda estão trabalhando nessa árdua batalha.

E sugiro à todos que sabem reconhecer um herói, que agradeçam a cada bombeiro que encontrarem na rua, cumprimentem, aplaudam, publiquem uma foto em homenagem à eles em suas redes sociais.
Que não sejam as honras militares ou as autoridades políticas que marquem a importância do trabalho que eles executam diariamente, mas que seja a nossa gratidão escancarada, que mostre o quanto valorizamos os nossos verdadeiros heróis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie seu comentário para helena73sa@gmail.com ou use esse espaço