domingo, 7 de dezembro de 2014

Quando eu me esquecer de você...


Agora que estou bem velhinha, posso relaxar de verdade.
Passei tanto tempo cuidando de tudo e de todos, que esqueci a sensação de ter alguém cuidando de mim.
Acho que vai ser bom...
Vamos sentar e conversar por muitas horas.
Vou te contar histórias de um tempo que ficou pra trás.
E vou te contar muitas e muitas vezes a mesma história, porque, por alguma razão, você me faz lembrar dela, e ela te fará lembrar de mim.
Quando eu me esquecer de você, estarei revivendo uma época em que você nem tinha nascido.
Cada cachorro me fará lembrar dos cachorros que tive.
E me lembrarei de muita gente que já se foi.
Um dia, eu voltarei a ser criança, e você trocará minhas fraldas.
Nesse momento, você pode pensar com tristeza, que perdi toda minha independência, ou pode agradecer aos céus, a possibilidade de retribuir todo amor que um dia te dei.
Você vai me pegar no colo e me colocar pra dormir.
Brincaremos de mãe e filha... e de agora em diante, você será sempre a mãe.
Acho que vai ser bom...

*Uma história sobre a doença de Alzheimer
** Algumas vezes, fico pensando nos caminhos da vida... nas situações que podem ocorrer com cada um de nós. Nem sempre essas situações nos atingem diretamente, mas estão ali, na casa do vizinho, na família do amigo...

Precisamos estar dispostos a enxergar o quadro como um todo... não só a tela, não só a moldura, mas as marcas nas mãos do artista, os borrões, e entender que a vida é assim. Como um jardim que tem lindas flores, mas também tem espinhos, insetos que picam, e uma boa dose de adubo.

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