sábado, 29 de abril de 2017

Paixão sem culpa


Ando apaixonada por esse tal de Fernando...
Essa Pessoa que se confessa um "fingidor", e valoriza cada momento, porque "tudo vale a pena se a alma não é pequena".
Esse alguém, com vários nomes, e várias histórias. Que se divide em diversos autores, sem perder seu verdadeiro eu.
Perturbado? 
Talvez...
Mas que artista não é?
Sensível...
Nas palavras e no olhar.
Fomos apresentados no passado distante, nos livros do antigo colégio.
Pessoa que me fascinou. E me fascina ainda hoje.
Procuro saber mais sobre Fernando. Ler mais. Tentar entender, e acima de tudo, decorar seus poemas.
Assim, permanecerá vivo por muitos anos, como permanecem os escritores. 
E ao enfrentar os perigos da vida, ou quando estiver a admirar o mar, ecoarei suas palavras, sem jamais esquecer que, também eu,
"Tenho em mim todos os sonhos do mundo"
*Fernando Pessoa


terça-feira, 25 de abril de 2017

Hora do Recreio

Existe um lugar, na praia de Santos, onde um navio encalhou no ano de 1972.

Já faz 45 anos que esse fato ocorreu, e apesar de todo esse tempo, restos do casco ainda estão enterrados na linha do mar.

A área, cercada por gravetos, sinaliza os desavisados sobre os riscos de nadar ali.

Muita gente vai e vem, caminhando, correndo, brincando, mas poucos reparam nos restos de um navio que encalhou. Que navegou um dia, mas morreu na praia.

Recentemente, descobri a importância de me sentar aqui, nessa praia, e admirar esse trecho de mar, nesse lugar que a muitos anos eu já chamo de meu.

Quantas dezenas, talvez centenas de pessoas já tentaram executar a difícil tarefa de remover a carcaça apodrecida da beira da praia?

Quantos deles puderam avançar milímetros nessa missão?

Quantos passaram noites em claro?

Sentada na calçada, sentido na pele o calor do sol ou a brisa da noite, tento aprender uma dura lição.

Nem todas as soluções serão imediatas.

Nem sempre é possível conseguir o que se almeja.

Muitas vezes, é necessário esperar o tempo certo das coisas. As fases da lua, a tábua da marés.

Enquanto a ansiedade nos consome, o resto de um navio aguarda pacientemente, que um dia, possa ser retirado do mar. Ou seja finalmente consumido por ele.

O resultado final, é impossível saber.

É preciso esperar. Observar o movimento das ondas. O movimento da vida.

E isso não significa que devemos desistir, ou esperar que as coisas se resolvam sozinhas....

Significa que de vez em quando, é necessário fazer uma pausa, colocar uma vírgula. Esfriar a cabeça e aproveitar o Recreio.

Logo mais, será hora de novos desafios.

Por isso, não podemos esquecer de curtir o intervalo.


Maria Helena Pereira de Sá.
*Curtindo a Hora do Recreio

Nota: O nome do navio encalhado em 1972 é Recreio.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Como mudar o mundo?

Nós queríamos mudar o mundo, mas não sabíamos por onde começar.

Queríamos ter as soluções para os problemas sociais, econômicos, ambientais, mas não conseguíamos inventar essas soluções.

Nós assistimos, passivamente, as notícias do jornal nacional e nos sentimos cada vez mais frustrados...

E buscando exemplos, buscando inspiração, buscando uma saída pra confusão que nós cerca, nos encontramos cada vez mais perdidos.

Pode ser que seja mais fácil fechar os olhos. Mas algumas vezes, estamos tão despertos, que não conseguimos mais adormecer
Será que é possível mudar o mundo aos poucos? Ou será que é necessária uma grande revolução?

E como se faz uma revolução?

Como podemos acordar do transe, todos aqueles que nos cercam?

Quanto será, que cada um de nós pode fazer?

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Nos cantos da mente


No encontro das linhas , entre a parede e o teto do quarto de dormir, me perco em meus pensamentos.

Ali, existe uma estrela solitária, que nem sempre pode ser vista, mas que eu sei que está lá.

Só eu sei sobre seus segredos. Só eu sei suas razões. Algumas estrelas só podem existir assim, como os pensamentos.

Nem tudo que existe pode ser visto.

E nem tudo o que vemos é realmente real.

Três linhas se encontram em um ponto. Ou três caminhos que partem de um mesmo local. Três planos. Surpefícies.

Três ou mais pontos de vista.

Onde é teto? Onde é parede? Qual é o certo e o errado?

Estrelam jorram sob minha cabeça. Lançadas pelo sopro da fada.

Será que estou divagando? Ou será que isso  é real.

Um mergulho na mente poderia revelar lindas paisagens, ou apresentar o lado obscuro que ninguém jamais viu.

A mente é um grande mistério. Como o mar.

E se a mente é como o mar, vou citar o trecho de um poema e finalizar esse texto com as palavras de um grande autor.

"Deus ao mar, o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu"

segunda-feira, 20 de março de 2017

A cidade passa depressa pelas janelas do ônibus. Perdida em meus pensamentos sinto uma lágrima discreta escapar pelo canto do olho e escorrer por minha face.

Houve um tempo em que eu poderia fugir de todas as dores e de todos os problemas.

Existe um espaço em minha mente para onde eu fugia quando me sentia (quase) despedaçada.

Mas esse lugar não existe mais.

Dessa vez, o estrago foi tão grande que não abalou apenas minhas estruturas externas, roubou minha alegria, sequestrou minha paz.

Dessa vez, a dor invadiu todo meu ser e derrubou as fronteiras entre meu mundo secreto e o mundo real.

Meu nome é Alice. E não por mera coincidência, criei dentro de mim um lugar chamado: País das Maravilhas.

Lá, onde não existe nenhum tipo de sofrimento, me deitava em na relva e observava o voo dos pássaros.

Nesse jardim os pássaros não cantam, pois é o silêncio que cobre, como uma manta quente, todo o lugar.

Não há pensamentos ruidosos tentando entender fatos inexplicáveis.

Um vazio supremo, repleto de imagens que vem e vão como as casas que vejo pela janela do ônibus.

Talvez esse lugar tranquilo seja a intimidade de minha alma, onde nenhuma tragédia ou felicidade podem me atingir. Ou não podiam.

Tento, desesperadamente, voltar ao meu outro país.

 Fugir da realidade só com o poder da concentração (ou da meditação,talvez), mas não consigo achar o caminho.

Sinto-me perdida dentro de meu próprio eu.

Eu fracassei.

Fracassei e quanto mais analiso esse fracasso, mas fracassos descubro em meu caminho.

Não segui os planos que tracei. Não conquistei as vitórias que desejei. Não sei qual o caminho que estou seguindo e nem se quero seguir por essa estrada.

Estou perdida, seguindo em frente, assim como o ônibus.

Seguindo uma rota, uma reta, uma curva.

O ônibus para em um cruzamento e olho ansiosa para as demais opções: uma rua arborizada, uma avenida movimentada, recheada de estabelecimentos comerciais... Mas eu e o ônibus seguimos em frente, sem mudar de direção.

Será o medo ou o comodismo que me paralisa?

Sigo, dessa vez, desviando os olhos da janela para observar aqueles que me acompanham.

Quantos estarão perdidos em seus pensamentos?

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Malabaristas

Vejo meninos no semáforo, lançando ao vento bolas gastas de tênis....Ou laranjas....Ou limões.

Eles se empilham em malabarismos circenses em busca de um trocado.

Me pergunto: Quanto tempo eles se dedicaram a aprender tais artes?

E por que não dedicaram esse mesmo tempo às ciências, à matemática, à nossa tão esquecida língua portuguesa?

Por que não estão nas salas de aula, aprendendo uma infinidade de assuntos, e se preparando para os desafios futuros?

Eu mesma respondo:

A sala de aula não oferece um trocado. Uma moeda. O resultado imediato para aquele esforço de aprender malabarismos.

Nossos pequenos artistas circenses tem pressa.

Eles vivem o hoje, como se não houvesse amanhã.

E não há.

Não para eles.

Amanhã eles ainda estarão nesse mesmo cruzamento. E no outro dia também... No natal...

A encruzilhada é mais do que o território de seu ganha pão. Ela é o símbolo de sua situação atual. Mas eles só vêem um caminho...

Eles deram as costas para a outra via.

Talvez, se os meninos do sinal pudessem se equilibrar entre os estudos e os trocados.

Se pudessem aprender com o mesmo esforço, lançar laranjas e escrever uma nova história.

Talvez no natal de algum ano, eles estivessem lançando ao vento, um chapéu de formatura.

Qual o futuro dos meninos, que em troca de algumas moedas, lançam ao vento suas chances de ter uma vida melhor?

A dança da fênix

Renasço todos os dias quando acordo na mesma rotina de sempre, mas consigo enxergar cada dia como um dia único.
Renasço todos os dias quando treino meu olhar para enxergar a beleza das cores em um dia de sol, ou apreciar o cheiro da chuva e a felicidade das plantas dançando na suave brisa do vento.
Renasço quando reúno amigos e familiares para conversar de assuntos sérios, ou rir de bobagens.
Renasço a cada abraço apertado, carinhoso e reconfortante, onde a troca de energias recarrega nossas baterias.
Renasço em um banho de chuveiro, quando deixo a água lavar as impurezas e as preocupações.
Renasço todos os dias observando a pureza das crianças, seus sorrisos fáceis e o brilho no olhar.
Renasço ao escutar histórias e absorver a sabedoria dos idosos.
Renasço em meu trabalho, quando me dedico a tudo que acredito que pode dar certo, e busco resultados para cada novo desafio.
Renasço quando abandono as tarefas do lar e passo horas admirando a natureza na beira da praia
Mas também renasço quando depois de uma longa faxina, admiro a beleza da casa que me abriga.
Renasço ouvindo minha música preferida, meu hino, ou outras músicas que me fazem recordar de pessoas, momentos, saudades
Renasço quando cuido de mim mesma e o recebo elogios carinhosos de quem notou esse cuidado
Renasço quando desabafo em um ombro amigo, e renasço muito mais forte, quando sou o ombro e posso acolher alguém que necessita
Renasço nas vitórias, ou no reerguer depois dos tombos.
Renasço quando pesquiso e aprendo coisas novas
Renasço cada vez que sou capaz de ajudar o próximo, mesmo que sem esperança de gratidão.
Quando percebo que um pequeno gesto pode fazer uma grande diferença pra alguém. E quando eu faço esse gesto.

A felicidade está ao nosso redor. Nos pequenos detalhes.
Senti-la, depende também de nós.

(Releitura do texto de Plano Neruda - livro: A dança da paz - ver nos comentários)
Por: Helena Sá