domingo, 29 de setembro de 2013

Memórias de uma desmemoriada...

Tem gente que tem deficiência visual, tem gente que tem deficiência física... e tem gente, assim como eu, que tem deficiência de memória.

O que muitas vezes vira piada nas reuniões de família, gera momentos desagradáveis na maior parte das vezes.

Sim, eu confesso que mereço um Oscar na arte de representação, quando algumas pessoas vem falar comigo, e eu consigo manter uma conversa agradável, sem nem fazer ideia de onde o meu "velho amigo" me conhece.

Entretanto, algumas pessoas tem o péssimo habito de desafiar a minha péssima memória, começando a conversa com um: 'Você se lembra de mim?"

Gostaria de ser honesta o suficiente para simplesmente dizer: "Não, me desculpe, não me lembro de você. Mas não se magoe, não é nada pessoal. Na verdade não me lembro de quase ninguém que não vejo há mais de vinte anos... em alguns casos, não me lembro nem das pessoas que falaram comigo a cinco minutos atrás, no caixa do supermercado ou no balcão da farmácia."

Mas a situação fica ainda mais constrangedora, quando a pessoa fala o meu nome, pergunta de meus irmãos (também pelo nome), manda lembrança para os meus pais...

A sensação que tenho, é que aquele ser que está diante de mim, participou ativamente de minha vida, em algum momento em que eu estava em coma, ou algo parecido... talvez eu não estivesse presente em minha vida naquele momento. Talvez eu tenha cerca de 90 anos, e minha memória já esteja falhando...

Mas se eu for pensar friamente, os idosos geralmente esquecem os fatos recentes, e lembram-se perfeitamente de sua adolescência ou infância... isso me dá alguma esperança.

Essa semana, passei por duas situações que comprovam que meu caso é grave... gravíssimo....kkkkk:
Levei minha filha em um consultório médico, a atendente perguntou se era a primeira consulta e eu confirmei. Ao digitar o nome, ela verificou que já tínhamos estado lá. Mesmo que eu tivesse duvidado, ela tinha todos os dados do meu endereço e telefone antigos. Eu perguntei quando foi a última vez que estive lá: 10 anos e 3 meses atrás. Isso me dá uma pista sobre o prazo de validade de minhas lembranças.

Hoje, um conhecido me reconheceu, me chamou pelo nome, falou sobre minha família... e eu tentava buscar nos arquivos empoeirados do meu cérebro, qualquer pista que o identificasse. Nada! Ele falou seu nome, o nome do prédio onde morava... Seu rosto era familiar, mas ainda não sei se era por reconhecimento ou se era um artifício da minha mente para tentar justificar o fato de ele me conhecer e eu não...ou talvez... ou sim.

Já estou quase acostumada com situações assim. Não são agradáveis, não são confortáveis... mas acontecem. Acontecem com mais frequência do que eu gostaria.

Enfim, como não conheço nenhum remédio milagroso para memória, e não posso fazer uma viagem de volta para o passado, para relembrar tudo que já esqueci... Peço a todos os amigos e conhecidos, que me reconhecerem e não forem reconhecidos, que me perdoem por minha "deficiência", e quem sabe, me contem histórias de nosso passado em comum, não só para que eu me lembre de vocês, mas para que eu tenha certeza de que vivi (em plena consciência) em uma época que não consegui reter na memória.

Beijos a todos...

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