terça-feira, 22 de outubro de 2013

Cicatrizes na montanha


Cicatrizes nos remetem a momentos passados...

Algumas feridas nunca serão totalmente curadas! É necessário cuidar para que não infeccionem novamente.

Cada um de nós, conhece a história de cada cicatriz que possui.

Mas hoje, não estou falando de minhas próprias cicatrizes. As cicatrizes que me remeteram ao passado foram vistas do carro, quando seguia para mais um dia de trabalho.

Falo de novas cicatrizes que estão surgindo nas escarpas da Serra do Mar, na Baixada Santista.

Olhando mais uma vez, para as marcas dos deslizamentos de terra, que causam marcas profundas no verde da montanha, lembrei-me de um passado não tão distante, quando via a serra repleta de fissuras. Naquela época muito se falava da poluição, e dos danos que a "chuva ácida" causava à flora e à fauna da região.

O pólo industrial fervilhava rumo ao desenvolvimento. Milhares de trabalhadores ganhavam seu sustento labutando nas industrias de Cubatão. As luzes das fábricas e a fumaça das chaminés era observada dia e noite, em uma rotina sem começo e sem fim. Os efeitos da poluição era vistos nas estrias da vegetação da serra e os desmoronamentos de terra eram bastante frequentes.

Até que um dia, saiu no Jornal Nacional: A Serra do Mar ameaçava cair.

Para uma criança de doze anos, esse alerta soou como o anúncio do fim do mundo... ou ao menos, o fim de seu mundo. Era uma época de muita inocência, uma época em que eu acreditava literalmente em cada palavra dos noticiários. Assustada com as notícias, escrevi um poema*, quase uma oração, pedindo para que Deus nos salvasse dos estragos que nós mesmos causamos.

Esse momento foi também o despertar para uma preocupação real com o meio ambiente. E nesse despertar, eu não estava sozinha. O Brasil e o mundo ficaram em estado de alerta. Foram criadas leis ambientais, estabelecidos limites e iniciada uma ampla fiscalização.

Em Cubatão, foi inaugurada a principal Agência de Controle Ambiental do Estado de São Paulo - a CETESB. Filtros foram instalados, processos de produção aperfeiçoados, e depois de muitas mudanças, e muito trabalho, a cidade conseguiu se recuperar. As mudas, lançadas de helicóptero nas escarpas da serra, ajudaram a natureza a se regenerar e a vida seguiu seu rumo, sem a Serra do Mar sobre nossas cabeças...

Mas já a algum tempo, tenho observado novas cicatrizes ferindo a mata. Será mesmo que é culpa das chuvas dos últimos tempo? Será que os deslizamentos fazem parte de um processo natural, que ocorre de tempos em tempos?

Talvez sim, talvez não...

O que importa, é que eles estão ali, para nos alertar que, assim como os seres humanos, a natureza é frágil, e necessita de atenção continua. Precisamos permanecer atentos para não cometermos os mesmo erros do passado. Precisamos ficar sempre alertas para identificarmos cada alteração que causamos em nosso ambiente, e evitar que essas alterações se tornem uma ferida dolorosa demais.

Segue abaixo, o poema escrito em 1985:

"Senhor, ajudai Cubatão e seus moradores"

Senhor, 
Ajudai essa terra,
Segurai essa serra
Ajudai Cubatão!

Senhor,
Moradores pobres aqui tem,
Aqui vive o homem, a mulher e seu neném,
Se a serra cair eles morrerão, e outros também.

Senhor,
Moradores ricos existem aqui também,
e nessa riqueza existe uma família do bem
Se eles morrerem vai acabar também esse bem

Senhor,
Os ladrões que aqui tem, 
Não podem morrer
Pois no fundo de seu coração tem um pouco de bem.

Senhor,
Agradecemos e sabemos
Que vais segurar essa serra,
Que vais ajudar Cubatão, a nossa terra!

Ano: 1985

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