quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Crash da Bolsa - O maior drama da história

Vocês já ouviram falar sobre o Crash da Bolsa?

Nos livros de história, sempre tem um capítulo dedicado ao dia em que a Bolsa quebrou. Foi um pânico geral, pessoas se suicidaram, ficaram pobres da noite para o dia. Aquele data fatídica ficou conhecida como a quinta-feira negra...

Mas esse fato, não é considerado o maior drama da história.

A história que eu vou contar, essa sim, é de causar arrepios em milhares de mulheres. Muitas de nós, já teve pesadelos com o "Crash da Bolsa"...

Essa histórias começa numa segunda-feira. Afinal, não há dia mais negro do que uma segunda-feira.

Maria trabalha de sol a sol todos os dias da semana, e ainda faz uns "bicos" no sábado para conseguir um dinheirinho a mais para gastar no pagode.

A cerveja de fim de semana é sagrada!

Ela sai do serviço, pega o ônibus lotado, abafado e cheio de peão folgado... daqueles que ficam tentado se esfregar nas gostosas do lotação, e depois chega em casa na maior cara de pau e faz pose de um bom pai de família, um sujeito trabalhador.

Maria pensa nas cariocas indo pra a praia, com uma ponta de inveja, mas sabe que o tempo é curto e ainda tem muito o que fazer. Desce do ônibus, sobe a ladeira apressada, encontra a Dona Sonia, a Sueli e Seo Jorge da quitanda. São tantos amigos até finalmente chegar em casa, e ela conversa, cumprimenta, escuta uns lamentos, e com toda sua simpatia, Maria vai saindo de fininho, meio de lado, meio correndo, subindo as escadas, se estreitando nas vielas, imaginando quanto tempo vai levar para chapinhar os cabelos, pintar as unhas e tomar um bom banho para espantar o cansaço.

E ela coloca uma roupa bonita, uma saia curta, um sapato altíssimo - eu mal consigo caminhar com esses saltos, e Maria vai sambar a noite toda - ela vai pagodear...

Cerveja gelada, brilho nos lábios, homem charmosos, muita risada, o corpo suado... e a noite passa depressa demais.

No domingo, família reunida, bronzeado na lage, frango e farofa, café com bolo quentinho, Maria ainda ajeita a própria casa, lava a roupa, pendura, dá uma olhada nos filhos da vizinha que foi visitar o marido na cadeia, e tenta ler os livros da escola, porque sabe que com a estudo já está difícil, melhor não bobear... Semana de prova, consulta no médico, roupa limpa, desodorante, chinelo para a caminhada e sapato para a entrevista de emprego...

Sim, a segunda-feira está a caminho. O início da semana, dia de começar as dietas, se matricular na academia, tantos planos e esperanças.

Segunda-feira. Tudo começa na segunda-feira. É dada a largada para o corre-corre.

Mas nessa segunda tudo parou!

Tempestade, ruas cheias, protestos, ônibus incendiado. Tudo errado. Maria atrasada para a entrevista, chinelo arrebentado, pé torcido em um buraco da rua... essas ruas esburacadas! Esse governo desgovernado...

Estava tudo tão certo, mas começou dando errado. Maria decide pegar o metrô, desce apressada as escadas, entra no trem, vê as horas na tela do celular... ainda dá tempo. Esse emprego é importante, vai melhorar de vida, conhecer gente importante, ter tempo para se dedicar aos estudos, largar o "bico", e de repente... ir à praia num desses finais de semana.

Sim, vai dar tempo. Ela desce na estação, corre pra rua, esquece da chuva, uma carro passa na poça e Maria toma um banho de água suja da cabeça aos pés.

Segunda-feira negra, como o céu numa manhã de tempestade, mas ainda há esperança-ela é a última que morre - e ela se lembra da roupa limpa na bolsa, do pente e do desodorante, e das 1929 coisas que carrega nos ombros, uma parte de sua casa, um pedaço de sua vida. Mas passa o pivete, no centro da cidade, e vê aquela bolsa tão cheia, e a moça tão distraída olhando as horas de novo e guardando o celular no bolso lateral.

O pivete não tem piedade, é segunda-feira pra ele também. Uma segunda-feira negra, com poucas bolsas dando sopa na chuva.

O pivete corre, Maria caminha, a bolsa pesada pendurada no ombro esquerdo, o pivete agarra a bolsa, Maria segura a alça, um puxa daqui, outro força dali...e a pobre bolsa encharcada, comprada na Vinte e Cinco de Março, não aguenta o tranco e se rompe, se rasga, se esgarça, e espalha as 1929 coisas de Maria: o batom, a agenda, os livros da escola, a roupa limpa, a carteira de trabalho, a proposta de emprego, a entrevista no escritório do doutor advogado, a lixa de unha, as canetas, o pacotinho de bolachas, seu mundo, seu tudo... a bolsa arrebentada, o pivete correndo com o aparelho celular que de dez prestações só tem duas pagas... A Quebra da Bolsa. O Crash da Bolsa. 1929 coisas. Segunda-feira negra. Tudo acabado.

Maria chora, sentada no chão, misturando à chuva as lágrimas salgadas. E pensa que é o fim, enquanto uma pequena multidão que assistiu toda a cena, volta a perambular pela rua, seguindo seu caminho, sem pensar que um dia, nos livros da escola, estudou sobre o Crash da Bolsa. Uma pequena multidão que não conhece Maria, e que não sabe que acabou de assistir o Crash da Bolsa de Maria. O suicídio de suas esperanças. A segunda-feira mais negra que a quinta... pelo menos para aquela moça. Chorando na calçada.

Mas amanhã, será outro dia. E quem sabe a terça seja um novo dia para recomeçar. Uma nova segunda-feira. Uma semente de esperança... E quem sabe, na terça, haja um lindo dia de sol para despertar Maria para um novo dia.

*Maria Helena Pereira de Sá

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