Um passarinho me contou que está cada vez mais difícil
encontrar um bom lugar para fazer seu ninho na cidade de Cubatão. O problema,
segundo ele, é que toda vez que ele e a dona passarinha encontram uma rua
agradável, onde querem morar, alguma árvore é arrancada na redondeza, e por
temerem que a próxima seja a deles, eles voltam a buscar um novo local.
Mas meu amigo passarinho não se conforma com essa situação,
e por isso resolveu pesquisar o que está acontecendo com as árvores de Cubatão.
Durante sua investigação, ele ficou sabendo que diversos munícipes entram com
processo na prefeitura, solicitando a remoção de árvores localizadas em frente
à suas casas ou à seu comércio. Em minha santa inocência, imaginei que esses
munícipes queriam remover árvores doentes, ou aquelas, cujo plantio inadequado
da espécie, causa danos nas calçadas ou à fiação elétrica, mas o passarinho
disse que pesquisou também as razões… E acredite se quiser! Existe uma
infinidade de razões absurdas que os munícipes alegam, para justificar a
supressão da espécie árborea.
Teve o caso de uma senhora, que solicitou a retirada da
árvore em sua rua, pois um casal de jovens aproveitava para namorar sob sua
copa todas as noites, e tmbém uma outra senhora, que já estava cansada de
varrer as folhas caídas na calçada. Outro caso muito comum, é o dos
construtores, que após contruirem os prédios ou casas, descobrem que existe uma
árvore bem em frente o portão da garagem, e como é muito caro, quebrar o muro e
transferir o portão para outro lugar, eles solicitam a remoção da árvore. Pouco
importa se a árvore é saudável, frondosa, quantos animaizinhos residem naquela
árvore, quantos passarinhos escolheram seus galhos para fazer seus ninhos,
criar seus filhotes.
Me lembro bem do período que cursava a faculdade de
arquitetura… certa vez, tínhamos que escolher uma construção qualquer, que
achássemos interessante, para analisá-la e depois, deveríamos entrevistar o
arquiteto que havia feito o projeto. Escolha feita, fomos entrevistar o arquiteto.
Durante a conversa, ele nos contou que antes de fazer o projeto, foi visitar o
terreno, e lá encontrou uma enorme árvore. Essa árvore se tornou o ponto de
partida do projeto. Todas as curvas, aberturas, e o posicionamento dos acessos
foram baseados na simples decisão de não cortar aquela árvore. Muito antes de
se falar em sustentabilidade, esse arquiteto já estava projetando um edifício
sustentável. A enorme fachada de vidro, não recebe diretamente a radiação
solar, devido a sombra projetada da árvore, e a vista, de dentro e de fora do
edifício valorizam a edificação e a natureza. Contei essa história para o
passarinho e ele me perguntou: Por que os arquitetos, engenheiros ou
construtores não valorizam seus projetos, preservando as árvores do terreno, ou
as árvores das calçadas??? A pergunta me calou… Com tantas pessoas solicitando
a retirada das árvores, o que eu poderia responder ao passarinho?
Algumas vezes eu também tenho perguntas, que não consigo
responder… Na década de 80, auge da poluição em Cubatão, época das chuvas
ácidas, o Jornal Nacional mostrou imagens para todo o Brasil, das escarpas da
Serra do Mar, repletas de áreas de deslizamento… a notícia dizia que a serra
iria cair ! Eu, aos 12 anos de idade, apavorada, e já amante da escrita, peguei
um papel e uma caneta e escrevi um poema, poema-oração, entitulado: “Senhor, ajudai Cubatão e seus moradores”.
Esse poema começava assim: Senhor, ajudai essa terra. Segurai essa serra.
Ajudai Cubatão!…
A serra não caiu. Foi feito um amplo trabalho (conjunto)
para controlar as fontes de poluição. Mudas e sementes fizeram a recomposição
da Serra do Mar, e hoje vemos a grande muralha repleta de verde.
Enquanto converso com meu amigo passarinho, eu mesma me
pergunto: Onde estavam os cidadãos cubatenses naquela época, que não aprenderam
a valorizar a natureza? Será que eles acham que basta controlar as fontes
poluidoras para ter uma melhor qualidade do ar? Eles não sabem que as árvores,
além de produzirem oxigênio, também servem para reter a poeira em suspensão?
Além, é claro, de proporcionar uma sombra agradável nas tardes quentes de
verão, de atrair pássaros de diversas espécies, embelezar a cidade,
possibilitar a valorização imobiliária, proteger o solo, absorver a poluição
sonora, melhorar a qualidade de vida, e tantas outras vantagens que ainda
poderia listar.
Eu espero profundamente, para o bem do meu amigo passarinho,
e de toda população de Cubatão, que as pessoas reflitam um pouco antes de pedir
a retirada de uma árvore… ou talvez, se não for muita utopia, que os cubatenses
passem a solicitar à prefeitura, o plantio de novas árvores: nas ruas, nas
praças e em todos os pedacinhos de solo disponíveis, onde um dia já existiu uma
árvore… e nela, um ninho de passarinho.
Texto: Maria Helena Pereira de Sá - Julho/2012
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