quarta-feira, 11 de julho de 2012

As árvores de Cubatão



Um passarinho me contou que está cada vez mais difícil encontrar um bom lugar para fazer seu ninho na cidade de Cubatão. O problema, segundo ele, é que toda vez que ele e a dona passarinha encontram uma rua agradável, onde querem morar, alguma árvore é arrancada na redondeza, e por temerem que a próxima seja a deles, eles voltam a buscar um novo local.

Mas meu amigo passarinho não se conforma com essa situação, e por isso resolveu pesquisar o que está acontecendo com as árvores de Cubatão. Durante sua investigação, ele ficou sabendo que diversos munícipes entram com processo na prefeitura, solicitando a remoção de árvores localizadas em frente à suas casas ou à seu comércio. Em minha santa inocência, imaginei que esses munícipes queriam remover árvores doentes, ou aquelas, cujo plantio inadequado da espécie, causa danos nas calçadas ou à fiação elétrica, mas o passarinho disse que pesquisou também as razões… E acredite se quiser! Existe uma infinidade de razões absurdas que os munícipes alegam, para justificar a supressão da espécie árborea.

Teve o caso de uma senhora, que solicitou a retirada da árvore em sua rua, pois um casal de jovens aproveitava para namorar sob sua copa todas as noites, e tmbém uma outra senhora, que já estava cansada de varrer as folhas caídas na calçada. Outro caso muito comum, é o dos construtores, que após contruirem os prédios ou casas, descobrem que existe uma árvore bem em frente o portão da garagem, e como é muito caro, quebrar o muro e transferir o portão para outro lugar, eles solicitam a remoção da árvore. Pouco importa se a árvore é saudável, frondosa, quantos animaizinhos residem naquela árvore, quantos passarinhos escolheram seus galhos para fazer seus ninhos, criar seus filhotes.

Me lembro bem do período que cursava a faculdade de arquitetura… certa vez, tínhamos que escolher uma construção qualquer, que achássemos interessante, para analisá-la e depois, deveríamos entrevistar o arquiteto que havia feito o projeto. Escolha feita, fomos entrevistar o arquiteto. Durante a conversa, ele nos contou que antes de fazer o projeto, foi visitar o terreno, e lá encontrou uma enorme árvore. Essa árvore se tornou o ponto de partida do projeto. Todas as curvas, aberturas, e o posicionamento dos acessos foram baseados na simples decisão de não cortar aquela árvore. Muito antes de se falar em sustentabilidade, esse arquiteto já estava projetando um edifício sustentável. A enorme fachada de vidro, não recebe diretamente a radiação solar, devido a sombra projetada da árvore, e a vista, de dentro e de fora do edifício valorizam a edificação e a natureza. Contei essa história para o passarinho e ele me perguntou: Por que os arquitetos, engenheiros ou construtores não valorizam seus projetos, preservando as árvores do terreno, ou as árvores das calçadas??? A pergunta me calou… Com tantas pessoas solicitando a retirada das árvores, o que eu poderia responder ao passarinho?

Algumas vezes eu também tenho perguntas, que não consigo responder… Na década de 80, auge da poluição em Cubatão, época das chuvas ácidas, o Jornal Nacional mostrou imagens para todo o Brasil, das escarpas da Serra do Mar, repletas de áreas de deslizamento… a notícia dizia que a serra iria cair ! Eu, aos 12 anos de idade, apavorada, e já amante da escrita, peguei um papel e uma caneta e escrevi um poema, poema-oração, entitulado:  “Senhor, ajudai Cubatão e seus moradores”. Esse poema começava assim: Senhor, ajudai essa terra. Segurai essa serra. Ajudai Cubatão!…

A serra não caiu. Foi feito um amplo trabalho (conjunto) para controlar as fontes de poluição. Mudas e sementes fizeram a recomposição da Serra do Mar, e hoje vemos a grande muralha repleta de verde.

Enquanto converso com meu amigo passarinho, eu mesma me pergunto: Onde estavam os cidadãos cubatenses naquela época, que não aprenderam a valorizar a natureza? Será que eles acham que basta controlar as fontes poluidoras para ter uma melhor qualidade do ar? Eles não sabem que as árvores, além de produzirem oxigênio, também servem para reter a poeira em suspensão? Além, é claro, de proporcionar uma sombra agradável nas tardes quentes de verão, de atrair pássaros de diversas espécies, embelezar a cidade, possibilitar a valorização imobiliária, proteger o solo, absorver a poluição sonora, melhorar a qualidade de vida, e tantas outras vantagens que ainda poderia listar.

Eu espero profundamente, para o bem do meu amigo passarinho, e de toda população de Cubatão, que as pessoas reflitam um pouco antes de pedir a retirada de uma árvore… ou talvez, se não for muita utopia, que os cubatenses passem a solicitar à prefeitura, o plantio de novas árvores: nas ruas, nas praças e em todos os pedacinhos de solo disponíveis, onde um dia já existiu uma árvore… e nela, um ninho de passarinho.

Texto: Maria Helena Pereira de Sá - Julho/2012

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