terça-feira, 24 de julho de 2012

O som do silêncio


O “som do silêncio” é uma expressão que costumo usar para dizer o quanto me agrada a quietude, tão difícil de encontrar nas grandes cidades. É óbvio que eu sei que o silêncio é a ausência de sons, de ruídos, de barulho. Porém, em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais acostumadas com o zumzumzum do dia-a-dia, onde as músicas são tocadas no mais alto volume (não importa se o ouvinte tem fones de ouvido, se está no ônibus, ou se tem bom gosto musical), onde os rádios dos veículos são ligados antes mesmo de girar a ignição, o silêncio passou a ser considerado um estranho, um anúncio de maus presságios.
Quem nunca ouviu alguém exclamar: Nossa ! Que silêncio!
Para mim, o silêncio é um companheiro agradável, que me acompanha em algumas horas do dia. Ao acordar, por exemplo, não gosto de conversar. Me levanto, tomo um banho ouvindo a água cair do chuveiro, visto uma roupa e sigo para o trabalho... Saio do meu mundo e vou para o mundo dos ruídos.

Acredito que as pessoas já nem se dão conta da enorme quantidade de ruídos, que invade seus ouvidos durante todo o tempo. A poluição sonora, só é reconhecida quando o barzinho (ou a igreja) tocam música alta enquanto o desafortunado vizinho tenta dormir... Infelizes os que moram perto de barzinhos e igrejas, pois acompanham a balada de sábado à noite até altas horas, e acordam no domingo pela manhã com os louvores dos fiéis. Que fique claro que não tenho nada contra os louvores religiosos, mas se Deus está em todos os lugares, porque alguns fiéis precisam gritar tanto para que Ele os ouça ?

Mas a poluição sonora não vem somente desses lugares. Ela vem de veículos nas ruas, buzinas, sinais sonoros de garagens de prédios, música, pessoas falando cada vez mais alto (para que sejam ouvidas em meio a confusão), telefones tocando, obras, sirenes, televisões com o volume altíssimo, crianças chorando e gritando (fazendo birra), mães enlouquecidas berrando... Aliás, acho que esse é um sintoma da poluição sonora: ela enlouquece as pessoas ! Depois de algum tempo, vivendo nesse mundo ruidoso, já começamos a apresentar sinais de stress... Estamos tão cansados dos ruídos, que o simples piar de um passarinho, nas primeiras horas da manhã já se transforma em uma tortura alucinante para quem queria apenas dormir mais um pouquinho. (Isso é sério... já passei por essa situação)

Enquanto admiro o “som do silêncio”, percebo que o silêncio também tem seus sons: Os sons da natureza !

Em uma recente viagem para o interior do estado, pude notar a diferença entre admirar o silêncio em um local barulhento, ou participar de uma festa barulhenta em um local silencioso. Quando vivemos em uma cidade grande, onde nossa audição é extremamente estimulada durante todo o tempo, alguns momentos de silêncio não são capazes de nos proporcionar o relaxamento de nossas tensões. Por outro lado, em um local silencioso, isolado (sem sinal de celular), nos sentimos tão relaxados, que a música alta de uma festa que invade a madrugada não é capaz de nos estressar, e pela manhã, o canto dos pássaros anuncia mais um dia agradável... E mesmo que trinta pessoas se reunam na sombra de um quiosque para conversar, mesmo que um grupo esteja jogando volei na quadra ao lado, e as crianças estejam correndo em volta da piscina... Ainda assim, e apesar dos ruídos ao redor, continuaremos relaxados, pois todos os nossos sentidos estarão sendo estimulados adequadamente, mantendo um equilíbrio de sensações: sentindo a brisa do vento, e os cheiros da natureza, vendo um grupo animado, com todos falando (sem gritos) e se ouvindo tranquilamente. Assim, percebi que o prazer do silêncio não está na ausência absoluta de sons. “Os sons do silêncio” são prazerosos! O que incomoda muito é o barulho causado por essa necessidade que temos de aumentar o volume, para encobrir os barulhos que nós mesmos fazemos...

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