O “som do silêncio” é uma
expressão que costumo usar para dizer o quanto me agrada a quietude, tão
difícil de encontrar nas grandes cidades. É óbvio que eu sei que o silêncio é a
ausência de sons, de ruídos, de barulho. Porém, em um mundo onde as pessoas
estão cada vez mais acostumadas com o zumzumzum do dia-a-dia, onde as músicas
são tocadas no mais alto volume (não importa se o ouvinte tem fones de ouvido,
se está no ônibus, ou se tem bom gosto musical), onde os rádios dos veículos são
ligados antes mesmo de girar a ignição, o silêncio passou a ser considerado um
estranho, um anúncio de maus presságios.
Quem nunca ouviu alguém
exclamar: Nossa ! Que silêncio!
Para mim, o silêncio é um
companheiro agradável, que me acompanha em algumas horas do dia. Ao acordar,
por exemplo, não gosto de conversar. Me levanto, tomo um banho ouvindo a água
cair do chuveiro, visto uma roupa e sigo para o trabalho... Saio do meu mundo e
vou para o mundo dos ruídos.
Acredito que as pessoas já
nem se dão conta da enorme quantidade de ruídos, que invade seus ouvidos
durante todo o tempo. A poluição sonora, só é reconhecida quando o barzinho (ou
a igreja) tocam música alta enquanto o desafortunado vizinho tenta dormir...
Infelizes os que moram perto de barzinhos e igrejas, pois acompanham a balada
de sábado à noite até altas horas, e acordam no domingo pela manhã com os
louvores dos fiéis. Que fique claro que não tenho nada contra os louvores
religiosos, mas se Deus está em todos os lugares, porque alguns fiéis precisam
gritar tanto para que Ele os ouça ?
Mas a poluição sonora não
vem somente desses lugares. Ela vem de veículos nas ruas, buzinas, sinais
sonoros de garagens de prédios, música, pessoas falando cada vez mais alto
(para que sejam ouvidas em meio a confusão), telefones tocando, obras, sirenes,
televisões com o volume altíssimo, crianças chorando e gritando (fazendo
birra), mães enlouquecidas berrando... Aliás, acho que esse é um sintoma da
poluição sonora: ela enlouquece as pessoas ! Depois de algum tempo, vivendo
nesse mundo ruidoso, já começamos a apresentar sinais de stress... Estamos tão
cansados dos ruídos, que o simples piar de um passarinho, nas primeiras horas
da manhã já se transforma em uma tortura alucinante para quem queria apenas
dormir mais um pouquinho. (Isso é sério... já passei por essa situação)
Enquanto admiro o “som do
silêncio”, percebo que o silêncio também tem seus sons: Os sons da natureza !
Em uma recente viagem para o
interior do estado, pude notar a diferença entre admirar o silêncio em um local
barulhento, ou participar de uma festa barulhenta em um local silencioso. Quando
vivemos em uma cidade grande, onde nossa audição é extremamente estimulada
durante todo o tempo, alguns momentos de silêncio não são capazes de nos proporcionar
o relaxamento de nossas tensões. Por outro lado, em um local silencioso,
isolado (sem sinal de celular), nos sentimos tão relaxados, que a música alta
de uma festa que invade a madrugada não é capaz de nos estressar, e pela manhã,
o canto dos pássaros anuncia mais um dia agradável... E mesmo que trinta
pessoas se reunam na sombra de um quiosque para conversar, mesmo que um grupo
esteja jogando volei na quadra ao lado, e as crianças estejam correndo em volta
da piscina... Ainda assim, e apesar dos ruídos ao redor, continuaremos
relaxados, pois todos os nossos sentidos estarão sendo estimulados adequadamente,
mantendo um equilíbrio de sensações: sentindo a brisa do vento, e os cheiros da
natureza, vendo um grupo animado, com todos falando (sem gritos) e se ouvindo
tranquilamente. Assim, percebi que o prazer do silêncio não está na ausência
absoluta de sons. “Os sons do silêncio” são prazerosos! O que incomoda muito é
o barulho causado por essa necessidade que temos de aumentar o volume, para
encobrir os barulhos que nós mesmos fazemos...
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