sábado, 21 de julho de 2012

O lixeiro da minha rua

Se existe uma pessoa, que é um exemplo a ser seguido, essa pessoa é o lixeiro da minha rua!

Há muito tempo que admiro esse trabalhador, que com seu bom humor e seu jeito alegre de encarar a vida, vai transformando o mundo por onde passa. E essa transformação, não está relacionada ao serviço que executa. É claro, que quando os caminhões de lixo vão passando pela rua, a paisagem vai se transformando... os sacos preto, as sacolinhas plásticas e todos os rejeitos de nosso dia-a-dia são carregados para longe de nossa visão. Tudo aquilo que um dia usamos, as sobras do jantar que comemos, as páginas rascunhadas de nossas histórias, todos os resquícios de nossa existência (durante os últimos dias), são carregados para um mundo distantes: o aterro sanitário.

Certamente que fomos nós que depositamos parte de nossa vida na calçada, embalada em sacos plásticos... fomos nós que decidimos o que devia ou não permanecer em nossas casas... nós descartamos o que não queríamos mais e abandonamos em um canto qualquer, sem nem ao menos pensar em que destino teriam depois.

Poucos são os que observam com atenção, os trabalhadores, que passam boa parte do dia a correr atrás do caminhão compactador, recolhendo o que descartamos. Confesso que sempre os observei. Não importa a raça, a religião ou idade, os lixeiros sempre tem algumas características em comum: corpo esbelto, pernas torneadas e braços fortes. E por incrível que pareça, por mais antagônico que possa ser, aqueles que trabalham com sujeira, odores desagradáveis e materiais insalubres, são os que apresentam a melhor forma física... e atrás do uniforme sujo, a aparência mais saudável.

E foi observando esses trabalhadores, que um dia, há muito tempo, descobri o lixeiro da minha rua. Esse sujeito, que já foi matéria de jornal, acorda animado, muito mais cedo que a maioria de nós, e sai pelas ruas, recolhendo nossos lixos e multiplicando sorrisos. Ele brinca com os porteiros dos prédios, cumprimenta as senhoras, estimula seus companheiros, e diverte todos os transeuntes.

Essa semana, mais uma vez, encontrei o animado lixeiro... que enquanto fazia seu trabalho, falava animado com o porteiro do meu prédio. Passei por ele, me desejou bom dia... não um bom dia automático, desses que ouvimos quando fazemos uma ligação telefônica, ou encontramos um vizinho no elevador. Foi um bom dia de corpo e alma, de voz e coração. Me desejou bom dia porque queria realmente que eu tivesse um bom dia... e ainda completou: Bom trabalho!!!

Respondi o bom dia e bom trabalho com o mesmo entusiasmo, e com toda a sinceridade completei: Gostaria de ter sua animação para ir para o trabalho (alguns dias posso até me sentir animada e motivada, porém outros não são assim). Foi então que recebi, em sua resposta, uma grande lição:

"Temos que estar animados, pois senão, o mundo estará perdido"

Assim, o lixeiro da minha rua me ensinou que animação é uma questão de escolha. Ele escolheu ser assim. E distribuindo simpatia, colhe bom humor. O mundo realmente estará perdido, se além de descartarmos nossos lixos (por todos os cantos), também resolvermos descartar nossas mágoas, iras, problemas e irritações nas pessoas que nos cercam. Não importa se essa pessoa é um grande empresário, um respeitável doutor, o rabugento vizinho do elevador ou um humilde lixeiro: Distribua "Bons dias" como o lixeiro de minha rua: de corpo e alma, de voz e coração. Escolha a animação. Escolha o entusiasmo. Faça seu trabalho com o prazer de cumprir sua missão!

E transforme o mundo a sua volta, transformando primeiro o mundo dentro de você.

Texto: Maria Helena Pereira de Sá



3 comentários:

  1. A sabedoria está em saber ser o agente transformador da própria vida. Grande lição esta que ele ensinou e você foi capaz de enxergar e nos transmitir de maneira tão bela.

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  2. Gostei muito do texto, da história e da lição embutida nela! É interessante que o James Hunter, em "O monge e o executivo" chega a essa mesma conclusão: comportamento é uma questão de escolha, então é possível muda-lo.

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  3. Que bom que você gostou Amanajé... E aproveito para agradecer: Essa é a segunda vez hoje, que ao ler um comentário encontro uma sugestão de livro para ler... Já está na minha lista. Um abraço

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